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Quando eu era menina, meu pai, com um canivete, abria cabaças fazendo um zig zag quase perfeito. Como era algo inteiramente artesanal, uma ou outra parte do zig zag ficava maior, ou menor. Para fechar de novo a cabaça e usá-la como porta-joias ou porta-trecos – o que era minha intenção quando pedia a ele que as recortasse – era preciso saber exatamente o lugar onde todos aqueles dentinhos se encaixariam de modo perfeito.
Procurei pela web uma cabaça recortada da mesma forma que ele fazia e não encontrei. A semelhança com o que fazem por aí estava no risco a lápis em torno da cabaça para marcar o lugar do corte, e só. Pelo que vi, a abertura é sempre reta e lisa, como na imagem abaixo:
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Com a ponta de um canivete meu pai fazia zig zags que, parece, ninguém mais faz. Isso me enche de nostalgia, pois suas mãos, tão habilidosas no passado, estão trêmulas e ele não abrirá mais cabaças para que depois eu faça pinturas indígenas na casca. E nenhuma me ficou do passado! Como diria o Álvaro de Campos – heterônimo do Fernando Pessoa – “Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”.
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Esta imagem me lembrou os zig zags das cabacinhas e as pinturas que nelas eu fazia.
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Fui me lembrar das cabacinhas recortadas – e acabei meio tristonha – por causa da visita de minhas amigas, noutro dia, e de terem elogiado a decoração do meu jardim – algumas cabaças e passarinhos de madeira num galho. Havia me proposto postar sobre isso e comecei de um jeito invertido, a lembrar o que perdi. Mas não vou ficar triste: tenho a memória dessas belezuras que ele fazia, da expectativa com que eu aguardava o resultado, da escolha de cores para pintar os contornos do zig zag e, depois, da escolha do que ganharia a honra de habitar aquela cabacinha misteriosa que, depois de aberta, só eu saberia fechar. E porque posso me lembrar, estou completa.
Quanto ao jardim, a ideia é que algumas casinhas espalhadas com um pouco de alpiste atrairiam pássaros para nelas morarem… Não funcionou. Ou funcionou em parte: eles vêm, se alimentam e vão morar noutra parte. A casinha abaixo, por exemplo, já está precisando de reparos e nunca teve um morador:
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Esta outra casa, preparada numa cabaça, também não conseguiu um inquilino:
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A galinha – de cabaça – parece rir da minha pretensão de ter pássaros a habitar o jardim:
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“Não tem problema, sua boba”, digo-lhe de passagem, “eles moram no beiral da casa e vêm se alimentar aqui.” Não é bem verdade, eu sei. O beiral está cheio de pardais e maritacas que não são bem os moradores que eu queria…
Moradores definitivos mesmo, no jardim, só alguns pássaros de “faz-de-conta” que habitam um tronco de madeira, perto do varal… Esses, no entanto, não voam… estão sempre ali a espreitar os que vêm de longe, carregados de vento e aventura:
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Beijo&Carinho,
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Crédito da imagem em destaque, aqui.
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Respostas de 26
Lindaaas cabaças! Tão originais os enfeites, adoro casa com toques originais e significados!
Esses aí estão lindíssimos…
Hoje vim aqui rapidinho, pois me ausentarei no fim de semana!
Então desejo um fim de semana cheio de permissão para a felicidade.
Beijinhos cheio de afeto.
pequena-prendiz.blogspot.com
Obs.: Concerteza vale o seu caderninho de anotações, deve ser cheio de afeto.
Ola! Achei vc nos comentários da Rejane e vim te conhecer. Lindas cabaças. É uma pena que não achamos com facilidade para comprar! Bjus e um excelente final de semana! Vera Moraes – AQUI TEM DE TUDO – http://www.veramoraes.com.br
Jussara!
Quanta delicadeza em cada detalhe dos objetos da sua casa… Adorei!
E o texto, nostálgico! Faz parte de um projeto de um livro sobre a infância e a adolescência?
Beijo!
Ah! que delícia de jardim, hein? Se for a Machado, hei de visitar suas casinhas… Mas como minha visita não será tão cedo ou talvez jamais, fico desejando que algum pássaro do seu gosto saiba que a casinha é para ele e… voe até aí para fazer morada! O bom é que, quando eles resolverem ir, já têm a moradia… Muitos querem ir em alguns lugares e não sabem onde ficar…
Um grande abraço,Jussara, 'reagatadora de saudade e emoções'. 'Sor' Pilar
Jussara,lindo texto e lindos detalhes na sua casa…Adorei a galinha "zoiúda".Agora esse negócio das casinhas sem inquilinos,tá difícil, aqui também já tentei, me falaram prá orientá-las para o sudeste,para o norte e nada,são muito exigentes.Besitos
Aii, achei triste a parte do vô.. tadinho. Mas como vc disse, bom lembrar da época que ele fez, e como eram especiais esses momomentos de vocês.
No mais, post lindo!
Quem sabe ainda adquirimos um morador mais digno pra casinha.. Afinal..
"Aqui tem vaga", rs.
Te amo!
Gostei muito Jussara. Adoro esse "ar do campo", natural, rústico. Quanto aos passarinhos, quem sabe você experimenta colocar as casinhas em outros lugares? Eu tenho 2 uma, q fica + distante da casa, sempre tem moradores, a outra q fica perto da porta da cozinha nunca teve. Adoro o sino com o galo.
Jussara, essas cabaças são umas figuras mesmo!
Tbm me lembram infância, já que moro no interior e por aqui, não agora, era comum nas casas.
Lembrança boa!
Bom fim de semana!
Beijosssss
oi Ju
Olha, tem umas casinhas aqui em casa que demoraram muito tempo pra serem alugadas, mas depois que eles alugam a primeira vez, voltam a cada temporada, não se preocupe que alguém vai ocupá-las qualquer hora..rs
Que pena que muitas artes estão se perdendo né, imagino sua saudade..
quero também agradecer o recadinho lindo de ontem na postagem do meu aniversario de casamento, fiquei muito feliz com tanto carinho!!
bju amiga
ah, faltou dizer que o sininho é um tesouro , amei!
Lorena,
eu jamais conseguiria morar em um lugar que não expressasse de alguma forma o que sou.
Amei a visita e o desejo de um fim de semana "cheio de permissão para a felicidade".
Lindo fim de semana pra vc!
Olá, Vera,
que bom que veio me conhecer. Espero que volte sempre e goste do que por aqui encontrar.
Vou anotar seu endereço e a visitarei em breve, sim?
Abraço!
Olá, Luiz!
Que bom receber sua visita e saber que gosta dos detalhes da minha casa – são coisinhas simples, mas sem as quais eu não saberia viver.
Não, não tenho nenhum projeto nesse sentido – a não ser o próprio blog que iniciei com o propósito de de resgatar minha escrita, quem sou e o que amo.
Abraço!
"Sor" Pilar,
por que sua visita a Machado "não será tão cedo ou talvez jamais"? Adoraria recebê-la para um café (que a minha mãe faria)com bolachinhas, que são minhas especialidades, e para que conhecesse a minha "torre" – o lugar em que me escondo do mundo (verdade, eu saio muito pouco de casa) e o encontro (aqui).
Obrigada por desejar minha alegria com a chegada – "para ficar" – de um pássaro vindo de longe, de "mala e cuia". Se algum chegar atribuirei ao seu desejo amigo, pois ando muito descrente de que algum resolva se mudar para cá. Como diz a Mi Hernandez, uma amiga blogueira que mora na Espanha, eles são "muito exigentes" – as casinhas devem estar numa posição que nunca sabemos qual é… rs
Abraço!
Mi,
obrigada por ler o texto com carinho e nele encontrar beleza, bem como nos detalhes. Uma amiga de minha filha acha a galinha "zoiúda" o melhor detalhe de minha casa… rs.
Meu ex-marido orientou-me a colocar as casinhas em lugar protegido do sol, mas nem assim consegui nenhum pássaro decido a morar aqui… vc tem razão: como são "exigentes"! rs
Abraço!
Angie,
a "Sor" Pilar me chamou, no comentário que fez, de "resgatadora de saudade e emoções". Claro que se pode escrever sobre qualquer assunto que não envolva tais aspectos, mas escrever também é esse resgate… e por isso pode ser terapêntico. Por essa razão resolvi criar o blog: para resgatar minha escrita e minhas memórias – e não me perder de mim. Tb fiquei triste ao falar do meu pai, mas é bom saber que ele foi um homem criativo e que suas mãos, hoje trêmulas, criaram coisas lindas. Se hj ele ainda abrisse as cabaças criaríamos tantas outras "vagas" para pássaros, até que um deles se aventurasse! Mas acho que vou investir em bebedouros para beija-flores, pois esses já estão sempre por aqui. O que vc acha?
Beijo, linda, tb te amo!
Jussara, o meu comentário saiu sim… lá em cima…
qual cabeça tá precisando de reparo? a minha ou a sua? As duas???? Ahhhh, eu sabia!!!
rsrsrsrsrsrsrsrs
Beijossssss
Realmente, são lindos os artesanatos feitos com cabaça!
Oi, Clara,
a minha com certeza está… rs…igual a primeira casinha sem morador 🙁
Obrigada pela companhia!
Abraço!
Artesanato sempre me encanta, Cristina. Que bom ter sua visita aqui – e seu comentário. Volte sempre!
Abraço!
Regina,
Vou seguir seu conselho e colocar num lugar mais tranquilo a casinha que fica próxima à porta da cozinha. Quem sabe consigo um morador?
Quando vi aquele sino com o galo, já até imaginei o lugar em que ele iria morar… rs
Abraço!
Ana, seu comentário me deixou mais animada. Vou mudar a casinha que está perto da porta da cozinha para um canto mais tranquilo e confiar que qualquer hora apareça um morador…
Quanto ao sininho com o galo, é mesmo um tesouro… assim que o vi sabia onde ele iria morar… rs
Obrigada pela sua leitura atenta e por sua amizade! Abraço!
Dei uma passada em seu Blog e acabei ficando…Muito bom e caprichado!
Quando meu pai tinha um sítio em Pouso Alegre -MG eu e minha irmã brincavamos de inventar bonecas de cabaças e lá tinha de montão!
Bons tempos… anos e anos atras!
Um grande abraço e ótimo domingo cheio de energias positivas!
CamomilaRosa
CamomilaRosa,
Que boa notícia saber que você passou para dar uma olhada e acabou ficando! Que bom que gostou! Espero que volte seemmmpreee…
Alegra-me ter suscitado essas lindas lembranças de infância. Nunca tive acesso a cabaças de montão, nem fiz bonecas com elas, mas gostaria tanto de ter feito!
Retribuirei em breve sua visita, sim?
Grande abraço e lindo domingo pra vc!
Hoje aprendi uma nova lição: Não se entristecer com as lembranças porque se posso me lembrar, estou completo!!
Lindo!
Sidnei,
escrevi este post muito emocionada e agora seu comentário me emociona!
Obrigada pela leitura atenta, pela percepção poética, pelo carinho comigo e com meus textos.
Grande abraço!