“COZINHADINHO” E SUCULENTAS

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Na pré-adolescência brincávamos de “cozinhadinho”.  Era esse mesmo o nome que dávamos à brincadeira de montar um fogãozinho à lenha com alguns tijolos e a armação de ferro em miniatura. Recolhíamos gravetos e ateávamos fogo até que esse se tornava contínuo o bastante para garantir a comidinha que era feita em três panelinhas de ferro. Arroz, batata ou cenoura, tomate e cheiro-verde.  Essas foram minhas primeiras incursões pelo universo da culinária e embora o arroz ficasse uma espécie de papa, tinha um gosto especial que sabia à fumaça e à empolgação de ter conseguido efetivamente “cozinhar”.
Depois da brincadeira os tijolos voltavam para o lugar de onde haviam saído e a armação em ferro do fogãozinho e suas respectivas panelas eram lavadas e postas para secar ao sol antes de serem guardadas… dava trabalho… o lado do ferro que havia entrado em contato com o fogo ficava cheio de fuligem que sujava mãos e unhas.
Então chegou o momento em que não se brincava mais de “cozinhadinho”.  As primeiras experiências num fogão de verdade – um bolo, ou brigadeiro – fizeram esquecer o fogãozinho de ferro que, muitos anos depois, foi encontrado, enferrujado e triste, dentro de uma caixa de ferramentas do meu pai.
Desde então minha mãe e eu pensávamos num projeto que resgatasse sua antiga “glória”. Cheguei a pensar em contratar um pedreiro que construísse em meu quintal um fogãozinho à lenha a fim de utilizar aquela estrutura em ferro e oferecer à minha sobrinha, que na altura era ainda pequena, a alegria de se divertir com ele quando aqui estivesse em férias. Soube, entretanto, que meu irmão comprara para ela fogãozinho igual e a ideia perdeu totalmente a graça. Então comprei lixa e tinta preta acrílica. Minha mãe e eu retiramos a ferrugem com a lixa e pintamos a base do fogão, com seus três buracos para as panelas, e, finalmente, as próprias panelinhas. Pensei em colocar num canto da minha cozinha, mas não deu muito certo…  cozinha pequena, outra decoração… O fogãozinho e eu esperávamos…
Finalmente, na semana passada, fui ao supermercado e encontrei à venda pequenos vasinhos de suculentas. Lembrei imediatamente do fogãozinho e do cheiro e do sabor das comidinhas daquele tempo distante. Guardado em casa, sem memórias desse tempo antigo, ele apenas aguardava, sem saber que eu já decidira o seu futuro:
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Hoje o fogãozinho exibe as suculentas no meu jardim. Olhar para ele é duplamente prazeroso: pelas alegria das plantinhas e pela história que, sem saber, ele guarda em si.
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Beijo&Carinho,
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Crédito da imagem em destaque, aqui.
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MAIS PUBLICAÇÕES

Respostas de 20

  1. Oi, Fabiana,
    quer dizer, então, que vc tb chegou a fazer fogãozinho com 3 tijolos? Que delícia que era, né? Vc tb chamava de "cozinhadinho"? rs
    Fiquei feliz ao garantir uma aposentadoria digna e feliz pro fogãozinho. Que bom que vc gostou da ideia!
    Abraço!

  2. Acho que tudo aquilo que fazemos quando criança, constrói muito do que nos tornamos quando adultos.
    São memórias lindas!
    Está no rank das minhas brincandeiras preferidas, as de "conzinhar"!

    Adorei a ideia!
    Beijoos,
    pequena-prendiz.blogspot.com

  3. Oi, Lorena, concordo com vc. E mais: pelo resto da vida estaremos sempre a buscar esses sentimentos, cheiros, sabores, cores, perfumes que marcaram nossa infância. Trata-se, como diria o Rubem Alves, de um "retorno e-terno"
    Obrigada pela visita e pelo carinho!

  4. AEEEE Jussara, que bom que deu certo!!!!!
    hoje aprendi outra coisa com uma amiga, mas não fiz muito certo..rs
    o blog dela também estava como o seu e ela me ensinou a postar como

    openID, colocando comentário como openide não conta do google, o comentário entra em nome do blog de quem esta comentando, só que configurei errado e cada vez que vou colocar comentário por ali tenho que escrever jeito de casa.

    mas agora tudo certo, e se eu puder te ajudar outra vez , apesar de não saber muito, será um prazer, bjo

  5. Olá!
    O tempo é corrido, mas entre uma coisinha e outra vou conseguindo dar um oizinho para as amigas.
    Não tive o privilégio de ter esse tipo de brincadeira na minha infância e adolescência. Como dizem para mim e para minha irmã somos meninas criadas em apartamento. Coisas da vida moderna. Morei por 29 anos em apartamento, acredita. Depois que me mudei para o interior é que vim conhecer a vida numa casa e de forma mais calma…
    Guardar lembranças, ainda mais muito boas é uma das coisas que nos dá forças a continuar nossa jornada. Adorei o novo uso que deu ao seu amado fogãozinho.
    Um beijo

  6. Oi, Fabiana,
    concordo com vc quando diz: "Guardar lembranças, ainda mais muito boas é uma das coisas que nos dá forças a continuar nossa jornada". Verdade! Bom demais receber sua visita. Fico feliz que tenha gostado do novo uso do fogãozinho…
    Abração!

  7. Ah, que lindo !!
    Quero um fogãozinho desses…
    Tá bom que não sou criança e tals, mas esse fogãozinho é a coisinha mais fofa desse mundo…
    E ficou uma graça com as suculentas…

    E que recordações lindas, eu brincava de cozinhar, mas era barro mesmo, rsrsrs

    Bjus 1000 querida

  8. Minha infância na capital paulista não me proporcionou tais aventuras. Chamei meu pai p lermos juntos “Cozinhadinho” e suculentas. Felizmente ele pode se identificar com seu relato, pois ele tbm fazia "cozinhadinhos" nas panelas de ferro. Ele conta q certa vez fez um ovo frito q ficou com o formato do fundo da panelinha, e q o arroz tinha um delicioso sabor de fumaça. Recordar é viver! Esta frase clichê teve sentido em seus saudosos relatos, e nas vibrantes expressões faciais do meu pai, quando relatou alguns fragmentos de sua infância. Amamos sua ideia com as suculentas nas panelinhas de ferro. Vc conseguiu aliar a um objeto de valor inestimável, seu bom gosto em decoração e paisagismo. Bjs!!!!

  9. Oi, Raquel,fiquei super feliz com sua visita e seu comentário, principalmente por vc ter chamado o tio para ler com vc e ele ter confirmado minha lembrança do arroz com o "delicioso sabor de fumaça". Obrigada pelo elogio ao meu "bom gosto". Quando achei as plantinhas elas parece que pediam o fogãozinho, entende? Agora estão todos felizes lá fora…
    Abração!

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