“O ALEGRE CANTO DA PERDIZ” – UMA BREVE LEITURA

“O ALEGRE CANTO DA PERDIZ” – UMA BREVE LEITURA

 

CHIZIANE, Paulina.  O alegre canto da perdiz. Porto Alegre: Dublinense, 2018, 352p.

 

Confesso que iniciei a leitura com certo preconceito; não gosto de guerras nem revoluções, nem reais nem fictícias, nem no cinema nem nos livros, e sabia que a obra iria abordar a rede social de Moçambique, ainda no período de dominação portuguesa, quando abusos de todos os tipos eram perpetrados, não apenas pelo invasor. Entretanto, a autora acabou de ser premiada com o Prêmio Camões de Literatura, considerado o maior prêmio da Língua Portuguesa – eu não podia simplesmente não ler. Que bom que o fiz, pois amei muito a obra que é narrada em tramas que se cruzam, num tom de conto oral (a autora diz que se inspira em contos à volta da fogueira, sua primeira escola de arte) ou de fábula, indubitavelmente poético.

A ação das personagens, especialmente as femininas, e mais especificamente as de Delfina e Maria das Dores (mãe e filha), denuncia o quanto a mulher moçambicana foi coisificada durante a colonização e constrói um discurso que reconta lendas do matriarcado ao mesmo tempo que relê a origem dos povos, a história da África e principalmente da Zambézia. Discurso feminino e delicado, ainda que o assunto abordado seja cru, doloroso, gritante.

Por vários anos Maria das Dores perambula como louca, banha-se nos rios, é amaldiçoada, apedrejada: procura pelos três filhos que lhe foram tomados, cheia de dores pelo abuso do marido, pela traição da mãe. Ao desafiar os costumes da vila Gurué, aos pés do rio Licungo, não imaginava que ali reencontraria seus filhos e a bela mãe Delfina que, como outros colonizados, despreza a própria raça por ascensão social, abandona o marido negro pelo amante branco e, contraditoriamente, recusa o linguajar e os costumes de seu povo sem renunciar aos serviços do bruxo local. Delfina, com todos os seus desacertos, não se perdoa pelo mal que fez à filha e chora/ora todos os dias para reencontrá-la. É em direção a esse reencontro que caminha a narrativa, enquanto o canto e o lamento dessas mulheres são comparados ao “alegre canto da perdiz”, ave característica da região.

Eu queria transcrever aqui alguns trechos para mostrar a beleza da escrita da moçambicana Pauline Chiziane, mas senti imensa dificuldade em escolhê-los. Todo o seu texto é belíssimo e recomendo fortemente sua obra.

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Paulina Chiziane nasceu em Manjacaze, província de Gaza, Moçambique. Foi a primeira mulher moçambicana a escrever um romance , “Balada de amor ao vento” (1990). Suas obras encontram-se traduzidas na Alemanha, Espanha, Estados Unidos, França e Itália.

 

 

           Beijo&Carinho,

 

 

 

Crédito da imagem em destaque, aqui.

 

 

 

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