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Parece estranho que em plena era tecnológica, quando as mensagens são digitadas de forma abreviada para maior agilidade e compartilhadas com uma rapidez nunca antes sonhada, eu venha falar de revisão de textos. Pois venho.
Justamente porque o acesso aos notebooks, tablets, iphones e smartphones se popularizou, muita gente que não costumava escrever nem lista de supermercado passou a publicar textões nas redes sociais, seja para desejar bom dia, compartilhar um poema ou reflexão ou para vender um produto. De um modo ou outro, mas mais especificamente para os textos que representam uma empresa (ou a própria produção, no caso dos poetas) é muito desagradável quando apresentam erros gramaticais que põem em dúvida a seriedade da marca e do produto.
Você acha que não? Pois preste atenção como às vezes é difícil entender o que uma determinada frase, publicada nas redes, quer dizer… às vezes trata-se apenas de uma vírgula mal colocada, mas todo o sentido se esvai.
Muitas vezes o erro nem é perpetrado por pessoas que antes não costumavam escrever, mas por profissionais de revistas e jornais, considerados sérios, que na ânsia de publicarem a notícia em primeira mão, em suas versões online, acabam descuidando da revisão e entregando manchetes em que os erros não são incomuns.
Sempre que possível procurarei trazer aqui prints dessas notícias e de diálogos nas redes para que sirvam de alertas sobre a necessidade de revisar seu texto. E note que até aqui falei apenas de redes sociais, mas a questão é extremamente mais séria quando envolve publicações físicas de trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses, revistas e jornais e – pasme – até livros, onde os erros incomodam e acabam com a imagem do autor, da editora, do pesquisador…
Outro dia deixei em um canal no YouTube o seguinte comentário: “Adoro quando você corrige erros de português! Trabalho com revisão de textos e estaria sobrecarregada de solicitações caso as pessoas que precisam de ajuda realmente a procurassem…”. Acredita que uma pessoa corrigiu (erradamente) meu comentário dizendo que eu deveria ter escrito: “caso as pessoas que precisam de ajuda realmente me procurassem”? Ora, eu me referia à ajuda: caso as pessoas que precisam de ajuda realmente procurassem por ela – a ajuda. Antes, porém, que eu explicasse o óbvio para o “revisor” inadvertido, percebi que outra pessoa já lhe havia explicado o sentido de minha frase.
A situação citada no parágrafo anterior reflete outro problema: aproximadamente 70% da população brasileira – segundo estatísticas recentes que circulam pelas redes sociais – é de analfabetos funcionais: sabem ler e escrever, mas dificilmente são capazes de interpretar textos (escritos e/ou falados), de entender uma ironia e a extensão de uma simples metáfora.
Assim sendo, mais importante se torna a correção na transmissão de seu pensamento, ideia, propaganda… para que realmente seu texto alcance o seu objetivo.
Abro a série de posts, que pretendo fazer a esse respeito, com a questão do verbo fazer utilizado para expressar tempo decorrido por se tratar de um ponto que muito me incomoda, pois normalmente a pessoa que faz o uso incorreto do verbo nesses casos o faz com a melhor das intenções, acreditando estar certa ao concordar o verbo com o número: “Fazem 20 anos que moro nesta cidade”. O “fazem”, bem pronunciado, chega a doer no ouvido e no peito de quem conhece a regra: não importa quantos anos faz que você more, namore, explore, cantarole: o verbo sempre ficará invariável: “Faz 20 anos que moro aqui.” Entendido?
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Beijo&Carinho,
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Respostas de 8
Amei. Uma boa maneira de ensinar regras básicas de concordância verbal! Como você sita, dói no ouvido e no peito de quem conhece as regras… Belo trabalho, professora. Serei sua seguidora….
Que bom, Miriam. Será ótimo poder contar com seus comentários. Abraço!
É minha amiga, o fundo do poço para a decadência cultural parece não chegar nunca. Ainda bem que temos alguns abnegados guardiões da língua portuguesa, como você.
O que me impressiona é que tempos atrás, como muito menos disponibilidade de informações e possibilidades de estudo, a pessoa tinha vergonha de se sentir ignorante. Atualmente não se tem orgulho em desconhecer ou ser preguiçoso, mas não há constrangimento. Acredito ser a consequência de anos seguidos focado na quantidade de pessoas matriculadas ao invés da qualidade das pessoas formadas em nossas escolas.
Nosso ensino fundamental se tornou um teatro trágico, onde alunos fingem que estudam para professores que limitam o que cobram por conta de diretores que encenam comprometimento com seu cargo, mas se sujeitam à politicagem para manter um pouco de sua renda extra. (Pre)Ocupados com as conveniências presentes, descontroem o futuro.
Um triste, mas verdadeiro, retrato da cultura de nossos dias…
Na verdade, os erros são bastante frequentes.
Eu suporto erros (também os faço). Só não suporto os grosseiros. E, quando tropeço nestes, normalmente deixo de ler.
Gostei do seu texto, que é muito interessante, pois trata de um tema pouco ou nada abordado no mundo digital.
Jussara, um bom fim de semana.
Beijo.
Obrigada, Jaime. Tens razão: os erros grosseiros justificam parar a leitura. Abraço!
Como publiquei novo poema passei para ver as novidades.
Jussara, aproveito para lhe desejar um bom fim de semana.
Beijo.
Obrigada pela visita. Passarei por lá para apreciar seu novo poema…