NAUFRÁGIO – MINICONTO DE JUSSARA NEVES REZENDE

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Seu maior sonho era possuir uma ilha deserta. Sonhava diariamente com seus coqueiros, sua praia de areia fina e clara, sua água transparente e, sobretudo, seu grande silêncio.

Odiava os ruídos da cidade: o grito de um vendedor ou de uma criança na rua, as buzinas, os barulhos provocados pelo arrancar de um ônibus ou pelo escapamento de um automóvel, as sirenes das fábricas. Economizava cada centavo para comprar sua ilha.

Um dia caiu no chão e se quebrou o porco rosado no qual guardava moedas. Recolhidas, eram, ainda, insuficientes para comprar ilha qualquer. Comprou, então, um revolver e começou a matar, uma a uma, as pessoas de sua cidade.

Quando tudo ficou silencioso, voltou para casa e começou a regar suas mudinhas de coqueiro.

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Beijo&Carinho,
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Crédito da Imagem: aqui

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Respostas de 27

  1. Oi Jussara um conto que bem reflete o nível de stress a que estamos sujeitos nas grandes cidades e de como estamos expostos às reações mais perigosas.
    Gostei da construção/inspiração.
    Carinhoso abraço de paz.

  2. Olá querida Jussara, eu gosto muito de contos curtos, que na medida do entendimento se percebe que nas entrelinhas nos é dito muitas coisas. O desejo de paz e isolamento, ainda que abstrato, nos dias de hoje é impraticável. Assim como teu personagem, estamos todos desesperados tentando nos encontrar e ter paz, que parece cada vez mais uma ilusão…mas o que guardamos como a grande solução, talvez não tenha a mágica solução e entramos do surreal ou inconsciente, vamos fazer com nossas próprias mãos, nossa ilha. Um dia de fúria ? Não, para mim é uma forma abstrata de poder ficar só e em paz. Gostei demais senhora escritora.
    ps. Carinho respeito e abraço.

    1. Sim, Cris, uma total ausência de compaixão pela situação/sentimento do outro: só a própria necessidade é posta em causa: loucura. A literatura às vezes enlouquece… rs
      Abraço!

  3. Quanto "umbiguismo"! O personagem, que poderia ser qualquer um de nós, realiza sua utopia de viver em paz, pagando o preço da própria falta de resiliência. Quem não gostaria? Paz sim, mas a qualquer custo, não! Dias atuais. . . Parabéns! Amei o texto! A arte é nossa arma para fugir da realidade, né? Beijos, com carinho Jussara!
    Rhosa Ferreira

  4. Jussara, seu miniconto expressa bem o que estamos vivendo, sonhamos e quando não conseguimos realizar nossos sonhos, matamos o que achamos que nos impede de ser feliz…
    Não se busca mais a essência de nossas buscas, vivemos apenas o imediatismo, sem nenhuma esperança…
    Triste!
    Feliz domingo, abraços carinhosos
    Maria Teresa

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