Com a mudança de minha biblioteca, no ano passado, de um espaço grande (um terceiro andar inteiro, equivalente a um sótão) para um menor (o quarto de minha filha que, literalmente, casou e mudou), decidi que doaria ¼ de meus livros, aproximadamente 500 volumes.
Eu poderia deixar guardados no sótão os livros que a nova biblioteca não conseguisse acomodar, mas preferi dar a eles a oportunidade de servirem a novos propósitos, encantarem outras pessoas, propiciarem novos sonhos.
Assim, separados por temas e entregues a candidatos com características pertinentes, voaram eles de minha torre para viverem sob novos telhados, até em outras cidades.
Essa experiência, algo dolorosa (muito embora eu tenha conservado meus livros preferidos), fez-me pensar nas pessoas que, ainda que amem os livros, como eu, se desfazem deles com uma facilidade que não sinto. São pessoas e atitudes louváveis, essas, pois oferecem novos leitores aos livros e, simultaneamente, novas leituras para antigos leitores e para aqueles que se iniciam no universo mágico dos livros.
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Recentemente soube da história de Giovanna, uma menina de 9 ou 10 anos, que, ao notar que sua estante estava muito cheia de livros parados (ela lê até 2 por semana) e sem espaço para novas aquisições, resolveu levá-los quinzenalmente ao Minhocão, em São Paulo, a fim de doá-los. A regra – se regra há – para adquiri-los é simples: qualquer um pode levar o livro que escolher, sem pagar por ele e sem precisar devolver, com o único compromisso de, terminada a leitura, passá-lo adiante, para outro leitor. A ideia é manter os livros circulando e encantando/conquistando novos leitores. O pai de Gigi, feliz com a resposta ao projeto da filha, tornou-se ele também um doador de livros e criou para a filha uma página no Facebook com o nome “A menina que doa livros”, uma clara alusão ao famoso livro de Markus Zusak.
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Outra história curiosa é a de Francisco, conhecido com Hippão, que no tradicional bairro de Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro, criou um verdadeiro mercado a céu aberto onde negocia “LPs, CDs, VDLs e cassetes, fotografias antigas, quadros, pinturas e reproduções”, além, é claro, de livros, que ele mesmo “recolhe em casas, escolas e bibliotecas, evitando sua destruição e esquecimento” (há casos de livros que iam para o lixão), “preservando memórias”.
Paraibano, Francisco migrou a pé, sozinho, para o Rio, em 1964, com 13 anos de idade. Dormiu ao relento, se fez homem, família, contador de casos e distribuidor de livros.
Para saber mais sobre o Francisco, assista ao vídeo de Fernando Moura Peixoto (de quem são as frases entre aspas usadas acima) e leia o delicioso texto que ele escreveu após fotografar por dois anos a atividade de Francisco e sua vida cotidiana. Segundo Fernando, que já comprou livros de Francisco, os preços são camaradas e altamente negociáveis.
Respostas de 24
Eu sempre gosto de doar os livros que já li para aquelas pessoas que realmente irão ler. Essa semana mesmo dei alguns que gostei muito de ler e não iria mais reler. É dolorido mesmo se desfazer de alguns. Os que ainda tenho um certo apego ainda não consigo doar.
Beijos
Adriana
Eu sou apegada demais, Dri! Só consigo doar aqueles de que não gostei ou que, embora tendo gostado, não constituem a boa literatura com a qual estou acostumada. Você lê Dostoievski, então sei que me entende, 🙂
Legal! Parabéns pela inciativa. Tenho certeza que muitos serão beneficiados pela leitura do livros.
Obrigada, Cícera. Espero sinceramente que sim. Muito bom pensar que podemos de algum modo fazer diferença no mundo em que vivemos, não é mesmo?
Muito bom mesmo, Jussara. Vamos todos continuar espalhando livros e cultura por um país melhor, mais justo. E sem pedaladas.
Está ótimo o blogue, continue. Parabéns!
É exatamente nisso que penso sempre que me sento para escrever, Fernando. Em fazer a minha parte, ainda que mínima, para fazer do mundo um lugar melhor.
Obrigada!
Abraço!
Oi Jussara, que belo gesto o seu!!!
Não adianta o apego, os livros merecem viver e ser lidos.
Fiz a mesma coisa no início de 2015, reformulei minha biblioteca e dos meus 2500 livros, 600 foram para doação.
entendo você, foi difícil me desapegar de alguns, mas no fundo sabia que não iria mais lê-los e outros não tinham mais nada a ver com a fase de vida em que estou.
Agora estou fazendo uma nova revisão, afinal, leio um livro ou dois por semana também, exceto quando são livros técnicos de psicologia que demandam leitura mais lenta. E já encontrei uns 50 volumes que irão para doação.
Também gosto de escolher pessoas que realmente se interessem por aquele livro.
Tem um café perto da minha casa cuja dona disponibilizou um cantinho para a troca de livros. Você pode pegar o livro que quiser, com a condição de que quando não for mais usá-lo, passe adiante ou traga novamente para ser disponibilizado nesse canto da leitura. Levei muitos livros meus lá.
Tinha ouvido falar dessa menina aqui, e achei demais!
Bjs
Cris, você tocou num ponto interessante: a questão de alguns livros não terem mais a ver com a fase de vida em que estamos. Nunca havia pensado nisso até pouco tempo. Quando era mais jovem imaginava que iria ter cada um de meus livros para sempre, mas muitos deles já não me dizem nada!
Na hora da doação também costumo separar por categorias, pensando no interesse de pessoas que conheço e que irão herdá-los, rs
Quanto ao café perto da sua casa…. meu sonho ter um também (pois gosto de fazer tortas e bolachas – e sou boa nisso): um lugar para se fazer um lanche gostoso folheando algum livro…
Abraço!
Oi JU,
Vc esta praticando o desapego!
Além de que outras pessoas terão belos momentos
Viajando na leitura.
EStou tentando ser desapegada desde q mudei da minha
casa aqui pra o apartamento. Fui muito apegada nela por 20 anos
e a ideia de siar de lá era do meu marido. Agora estou muito bem aqui e agora depois de alguns menes a casa foi vendida,mas tb não quero ter este apego tão grande a este apê, quero ser mais livre, rs
bjo grande querida og pela visita!
tive um tempo meio em conflito em elação ao blog, a pagina
dele neste fim de ano, mas parece que as coisas e a inspiração
estão retornando, mas com menos aflição e pego tb!
ana
E que a inspiração venha, Ana! Seu blog é ótimo e certamente faz diferença neste universo virtual. Mas que a aflição fique longe! Também sofro com ela em relação às postagens, visitas… mas estou pretendendo ficar mais light agora, rs
Bom bom saber que você já está de casa nova. Breve irei xeretar em seu blog para ver como ficou seu apê.
Abraço!
Olá Jussara.
Tudo Bem?
Passando pra te contar…
Pigi, o porquinho de Amor, livro escrito por minha sobrinha Mariana Alves. atingiu 100% das cotas e será produzido! Em meados de junho faremos uma tarde de autógrafos!
Muitissimo obrigado a todos que apoiaram e nos ajudaram a realizar esse sonho!
bjus. muitos
Mas que maravilha, Elaine! Adorei a notícia!
Espero que você divulgue, com alguma antecedência, a tarde de autógrafos. De repente é possível ir!
Abraço e muito sucesso pra Mariana!
Jussara, as vezes me pego sendo imaginativa e ja fui vendo você numa torre como uma princesa. Doando os livros.
Lindo e significativo gesto. Marido aqui nessa ultima mudança, tb o fez. Doando livros técnicos para os amigos.
Adorei conhecer a historia da menina e do senhor aqui de Botafogo. Não o conheço , mas vou assistir o video para identificar.
Dia desses, penei para fazer uma doação. Ninguem queria. Fui em escolas, bibliotecas e nada. Até um senhor que vende livros na rua, disse pra mim, deixa aí num canto que depois eu jogo fora. O quê? Trouxe pra casa. Até que uma colega de feira adorou as doações e levou para uma comunidade.
bjs
Nossa, Zi, também soube de dois casos, aqui em minha cidade, de doações recusadas pela biblioteca municipal. Que barbaridade! Ainda se fosse a biblioteca de Harvard!
Quanto à sua imaginação, confesso que sou imaginativa também e que gosto de pensar em mim mesma como uma princesa em sua torre: minha casa, pleo menos, é bem alta, rs
Abraço!
rsrsrs, Ju eu não compro livros, nunca !!
Apesar de amar ler, eu frequento as bibliotecas , leio e devolvo. Só guardo os que ganho já que eles vem com uma carga de sentimento maior, srrsrss .Mas imagino que para escritores deve ser bem mais difícil desapegar mesmo… Mas, pense pelo lado positivo, muitas pessoas terão a chance de se deleitar com uma boa leitura, esse ano me impus um propósito ler pelo menos 3 livros a cada 15 dias, estou indo bem até agora foram 12, vamos ver , srsrrsr
Bjus 1000 querida !!!
Adorei o seu propósito de leitura para este ano, Pepa!
Quanto à compra de livros, tenho tentado diminuir, mas é mais forte que eu! 🙁 Meus filhos brincam – obviamente com muiiiiitooo exagero – que seríamos ricos não fosse minha paixão por livros. Vê se pode! Abraço!
Oi Jussara,
recentemente conheci teu trabalho através da MilaResendes… nós aqui em Gravataí também estamos com esse projeto de espalhar livros por aí…
Gostei muito dos projetos citados! Fazem total diferença na vida de quem doa e de quem adota um livro!
Abraço!
Eduardo Miranda
P.S. Quem quiser acompanhar nosso dia-a-dia temos uma página no facebook/ProjetoLEIAGravatai
Olá, Eduardo. Conheci o projeto Leia Gravataí através da Mila – nossa amiga em comum – e gostei muito. Eu sou ainda muito apegada aos meus livros, mas tenho exercitado o desapego, rs
A diferença, a que você se refere, especialmente na vida de quem dota um livro, é o tipo de diferença que procuro fazer com o meu site: mudar – para melhor – ainda que seja muito pequena essa mudança, o mundo em que vivemos.
Abraço! Muito bom tê-lo aqui!
Uma boa idéia Jussara. Eu conheço um movimento na blogosfera que faz um perder livro em local de movimentação e no livro escrito, que o livro deve seguir passando de mão em mão. A historia da menina tinha lido e gostei de ver o video do Francisco.
Belo desapego amiga.
Uma semana maravilhosa para voce.
Meu terno abraço mineiro.
Bjs de paz.
Grato sempre.
Pois é, Toninho, participei uma vez do BookCrossing Blogueiro, e pretendo participar mais vezes. Acho interessante demais, mas nunca tive a sorte de encontrar um livro viajante!
Ontem mesmo entreguei um a uma amiga que mora noutra cidade, para que ele lesse e o "esquecesse" na praça da cidade.
Obrigada! Abraço!
Jussara, já fui muito apegada aos meus, mesmo sabendo que não ia relê-los. Depois que conheci o BookCrossing, gostei da ideia e passei a deixar alguns "esquecidos" nos lugares que frequento.
Já conhecia a iniciativa da menina, que admirei, como o vídeo do Francisco. Pensando bem, é bom ver os livros circularem. E creio que ninguém vai pegar algum se não tiver interesse na leitura. Bjs.
Creio que passamos por processo idêntico, Marilene. Eu sempre quis conservar meus livros para sempre… de repente… vendo o desapego de alguns… e entendendo que muitos livros não me representam mais… achei mais fácil libertar alguns.
Abraço!
Olá, Jussara.
Interessante postagem com um tema importante nos dias que correm, em que o individualismo galopa. Nestas atitudes, para além do acto de possibilitar e fomentar a leitura a quem não pode, ainda vai de encontro ao desapego, ferramenta importante para uma nova maneira de estar na sua própria vida, ultrapassando barreiras de cujas presenças talvez você nem se apercebesse 😉
Quanta coisa importante. É bom.
um bj amg
Em tempos de crescente consumismo por compulsão sem reflexão ou como compensação de frustração, exemplos como os aqui garimpados são um pertinente lembrete do que significa o conceito de “reciclar”.
Penso que conhecimento é como água, se não estiver em movimento corre o risco de estagnar e se tornar inservível. Essa generosa circulação de livros e possibilidades é um ato de fé na germinação de um mundo menos superficial e mais amigável.
A biblioteca municipal de Juiz de Fora (cidade onde vivo) é destino certo dos meus livros que estão esquecidos, pedindo para dar uma volta. Geralmente faço a seleção anual para doação em janeiro, mas este ano, por conta de trabalho, ainda não fiz. Animado (e lembrado) por esta publicação, farei a ‘catada’ dos livros durante a semana santa.
Vamos reciclar nossas ideias e atitudes em prol de um mundo mais sustentável/suportável!