MARCADOR DE PÁGINAS FEITO COM BONECA DE PORCELANA

O nome da boneca era Colette. Eu a comprei numa banca de jornais há mais ou menos um ano, dentro do primeiro fascículo de uma revista com bonecas colecionáveis, de porcelana, com trajes de época. Ela viveu desde então encarapitada em cima de uma pilha de suéteres de onde despencou na última semana num acidente terrível que beirou o suicídio.

Era inevitável que dele saísse com membros quebrados; de fato todo o lado esquerdo do seu pequeno corpo ficou fraturado. Sofri pouco, confesso, perto do que teria sofrido em outros tempos, mas a certa altura da vida você já sofreu tanto, por dores tão mais significativas, que pode suportar sem grandes dramas a perda de uma boneca.

Se minha mãe e eu nos desassemelhamos em algo é que ela tem o dom de curar objetos partidos, ao passo que eu carrego o incorrigível defeito de odiar pequenas trincas e esfolados. Ela insistiu comigo para que colasse as partes quebradas da boneca, mas eram muitas, tão miúdas, que por pouco não ajuntei tudo e joguei no lixo de forma a sepultar Colette, ainda que seu rosto continuasse perfeito e seu chapéu nem tivesse saído do lugar apesar da longa queda.

 Talvez tenham sido justamente o pequeno chapéu e o nome francês da boneca a me levarem à experiência de recriá-la: ando numa fase de encantamento pelos campos de lavanda da Provença (risos).

Pois bem, com a ajuda de um grampeador e de cola branca, fixei o pescoço e as pernas da boneca num pedaço de papel cartão. Minha mãe ajudou revestindo o papel com um tecido que escolhemos em sua caixa de retalhos e, assim, criou um longo vestido para a boneca que, transformada em marcador de páginas, passou a se chamar Cosette, nome da jovem e linda personagem do livro de Vitor Hugo, Os miseráveis, que estou a ler no momento.

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Beijo&Carinho,
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Respostas de 33

  1. Que amor ficou e confesso, parabenizo a paciência, pois aqui teria ido morar no lixo,rs… Valeu o trabalho e dedicação! Ficou lindo e sui generis! Adorei!

    Obrigadão pelo carinho por lá no sementinhas! beijos, tuuuuuuuuuuuuuudo de bom,chica

  2. Jussara
    eu aqui madrugando, colocando comentários em dia
    e lembrei de você
    fiquei fora uns 4 meses e lembro que vc tb falava que ficaria off line um tempo
    (ou não)
    que surpresa boa, vir aqui e encontrar a Cosete!
    conheço pessoas que não guardam nada trincado. Outro dia dia
    vi uma linda sopeira nos reciclados do prédio. Tinha uma pequena fissura.
    Sua antiga dona, não queria assim, por superstição
    Eu, não tenho . como ter, se colo meus caquinhos de vidros e conchas quebradas nos meus quadrinhos?
    Antes que eu a levasse, alguém fez isso.
    Mas voltando a Cosete, que era Colete, ficou lindinha
    com seu novo modelito e
    assim você a terá mais perto , enquanto lê seus livros.
    bjss

    1. Isso mesmo, Zizi, antes a boneca ficava fechada no guarda roupa, agora a tenho bem perto de mim 🙂
      Superstição eu não tenho, mas o certo é que não gosto muito de emendar nada, embora aprecie resultados de trabalhos cuidadosos como o seus, como mosaicos e vitrais, por exemplo.
      Abraço!

  3. Adorei a transformação da Collete para um marcador de livros charmoso e super útil. Trabalho incrivel! Pois eu teria jogado no lixo mesmo…rss… Nunca teria essa ideia de reciclar a boneca partida ao chão.
    Beijos
    Adriana

  4. Jussara, espero que seu coração esteja em paz. Todas as perdas nos machucam, inclusive a de objetos queridos. Também não gosto de peças trincadas ou quebradas, mas estou aprendendo a vê-las de outra forma, como sua mãe, sabiamente, faz. Dar uma nova vida a alguma coisa é prazeroso. E o resultado do que fizeram foi um marcador original e incrível.
    Eu me apaixonei pelos seus versos. Difícil escolher um dos poemas para mencionar, mas SINAL traduz uma iluminada união. Parabéns pelo talento, inquestionável. Bjs.

    1. Meu coração está dolorido, Marilene, mas em paz, sim. Conforta saber que amamos o quanto nos foi possível, no tempo que nos foi dado, não é mesmo?
      Obrigada pelos elogios ao marcador de página e aos meus poemas… tô aqui rindo sozinha, feliz por você ter gostado!
      Abraço!

  5. Jussara, embora eu seja adepta do reaproveitamento e da reciclagem, confesso que minha primeira ação diante de algo quebrado estilhaçado seria jogar no lixo; mas eu já reaproveitei canecas trincadas transformando-as em vasos. Tua solução foi muito bacana e sábia ; ficou linda!
    Beijo, menina

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