“O NOTÍVAGO” – IMPRESSÕES SOBRE A OBRA

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Eu havia escrito há tempos uma breve apreciação para um livro de poemas de Júlio Olivar – que conheci, praticamente um menino, a dirigir um jornal em minha cidade, com muito mais ideal que todo o essencial restante – e até havia me esquecido disso, pois o autor esteve ocupado como secretário de Estado da Educação e candidato a vice-governador de Rondônia e a publicação podia esperar. 

Assim, foi com uma alegria inesperada que encontrei O notívago em minha caixa de correio esta semana. Com um projeto gráfico muito interessante – o livro é pequenino: 20cm X 9,5cm – apresenta 58 poemas abertos pela caricatura do autor na primeira página, arte de Cleidson Freitas...

 

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No prefácio da obra, Hugo Pontes (falei dele aqui) considera que o que Júlio Olivar se propõe em sua prosa-poética é “cantar o seu universo, a sua aldeia; contar seu sentimento de mundo em sua caminhada na busca de algo que todo ser humano anseia por encontrar: a sua origem, o sentido da vida, o seu papel na sociedade atual e o papel que lhe reserva o futuro”. Nesse sentido, diz Hugo, o poeta leva seu leitor a refletir que “a sociedade é feita de contradições”, ou não viveria o homem em permanente conflito toda a sua existência.
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       Deixei vários objetos próximos para sugerir o tamanho do livro
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O texto abaixo é o que escrevi a propósito da obra e que foi publicado na orelha do livro:
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A leitura de O notívago recupera um delicioso mundo que já não existe – ou por ter ele se transformado ou por ter se tornado outra a visão que dele temos. Isso imprime no leitor a nostálgica sensação de ter perdido algo precioso e, sutilmente, a doçura de poder voltar a vislumbrá-lo.
Também para isso existem os poetas: para resgatar o que todos perdemos e, nesse resgate, propiciar a sublimação da nossa dor. “E(ternos) momentos eram aqueles lá de traz”, Júlio Olivar diz com acerto. Afinal, todas as nossas buscas não se resumem na tentativa de resgatar o que amamos? A paisagem da infância – dos nossos primeiros contatos com o mundo – os perfumes, sabores, as pessoas que amamos, nós mesmos como então éramos?
Além desse mundo redescoberto, certos jogos de palavras chamam atenção no seu texto. Ternura e
eternidade se fundem no lúdico “E(terno)”, enquanto o “C” de “depois de Cristo” – sem fazer essa referência – grafa a palavra “d.C(oca-Cola)”. Brincadeira séria esta que, consciente da escravidão a que as multinacionais submetem o terceiro mundo, se oferece sutilmente à denúncia dessa realidade.
Entre outros jogos, chama a atenção aquele que aproxima “pessoas” e “Pessoa”. Clara homenagem ao poeta português – que amo – e, ao mesmo tempo, recuperação da história portuguesa/brasileira e da história pessoal do poeta: “terrinha”, “além-mar”, “navegando”, “ancestrais”.
Também na obra pessoana se percebe o desajuste do poeta em relação ao mundo que estes versos de O notívago registram: “nasci no frio de junho para o mundo/ ele que, às vezes, parece não ir/ com a minha cara pálida”. Os poetas talvez existam por isto: por não se ajustarem ao mundo, por não caberem nele. Ou em razão de o mundo não caber nos poetas. Seja como for, salva-se a poesia.
Que O notívago cumpra seu papel de possibilitar pela reinvenção – como queria Cecília Meireles – a vida.  Que redescubra esquecidos mundos, que inaugure outros, verdade-sempre.
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Lançado em comemoração aos 40 anos do poeta, neste junho, O notívago reúne poemas que, segundo o autor, “vêm desde a adolescência”. “São memórias”, diz Júlio, “descritas num tom poético, despretensiosamente”.  

Transcrevo abaixo duas dessas “memórias poéticas”:.

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Em Rondônia, Júlio Olivar é membro da Academia Vilhenense de Letras e superintendente estadual de Turismo.

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Imagem: acervo do autor
Contatos com o autor, aqui e aqui.
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Beijo&Carinho,
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MAIS PUBLICAÇÕES

Respostas de 28

  1. Oi, Jussara. Obrigado pelo seu incentivo de sempre. Desde aqueles velhos tempos do jornalzinho na nossa Machado. Tenha a certeza de que suas palavras foram e são combustível para eu continuar e melhorar meus escritos. Valeu!!! Abraços!!! Júlio Olivar

  2. Oi, Ju,

    Já no parágrafo que diz: "A leitura de O notívago recupera um delicioso mundo que já não existe – ou por ter ele se transformado ou por ter se tornado outra a visão que dele temos", eu já estava me dizendo: tenho que ler! rsrs. Particularmente eu acho difícil encontrar poesia de qualidade nas novas publicações do gênero, então quando encontro fico alvoroçada. O negócio agora é ver se encontro este livro, rsrs.

    Um beijo e bom finzinho de semana!

  3. Jussara, como é bom vir aqui e ler, a cada postagem, uma preciosidade descrita por vc. Acho que o livro, nem as poesias, nem mesmo o autor seriam tão cativantes se não fosse por suas doces palavras.
    Como vc escreve bem, menina, como resenha bem, como convence perfeitamente bem!
    E que ótimo que faz "orelha" de livros!!!

    Um lindo fim de semana, querida!
    Beijos

  4. Toda vez que venho aqui é como uma aula, apesar de adorar ler, não sei diferenciar as coisas, leio de tudo sabe ?
    Mas tem coisas que toca mesmo o coração, deve ser essa ligação !!!

    Adoro tuas visitas, e mesmo quando não comento estou espiando tudinho, srsrrs

    bjus 1000 sua linda !!

  5. Tenho um tio com 85 anos que escreve muito… ele é mineiro e chama-se Totó. qualquer dia mostro alguma coisa dele. essa parte.. fica escutando o zunzunzun do velho vendeiro, me fez lembrar de alguns poemas dele.
    Que sua segunda feira seja quentinha, cheia de carinhos…

  6. Olá Jussara!
    Ótima descrição, nos deixa com vontade de ler…os poemas são lindos, "algazarras de colibris nas laranjeiras." Júlio Olivar é um poeta singular, pois percebe-se que ele compõe seus poemas com sinceridade e verdade.

    Obrigada pelo carinho da visita, amiga!
    Um grande abraço e linda semana, muito abençoada!
    (¨`·.·´¨)
    .`·.¸(¨`·.·´¨)
    …. ×`·.¸.·´×

  7. Oiiii Jussara, adorei o trecho citado pelo Hugo Pontes: "Os poetas talvez existam por isto: por não se ajustarem ao mundo, por não caberem nele. Ou em razão de o mundo não caber nos poetas. Seja como for, salva-se a poesia." e gostei muito das duas poesias que vc selecionou do Julio Olivar.
    BjoBjo querida;)
    Celina Alves
    Luxos e Luxos

  8. Oi Jussara

    Mais uma maravilhosa postagem, com seu agradável texto. Você é sempre carinhosa com os seus amigos poetas.

    Já gostei de "Notívago" só lendo as duas poéticas que você postou. Um encanto.

    Desejo muito sucesso á Julio e uma linda tarde para você.

    bjs.

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