ORAÇÃO DO MATUTO

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Ói Deus,
nóis tá sempre pedindo as coisas pro Sinhô.

Nóis pede dinhero
nóis pede trabaio
nóis pede pra chovê
e se chove demais
nóis pede pra pará
mode a coiêita num afetá.

Nóis pede amô
nóis pede pra casá
pede casa pra morá
nóis pede saúde
nóis pede proteção
nóis pede paiz
nóis pede pra deslindá os nó
quano as coisa cumprica,
mode a vida corrê mió.

Quano a coisa aperta nóis reza
pedindo tudo que farta
é uma pidição sem fim
e quano as coisa dá certo
nóis vai na igreja mais perto
e no pé de argum santo
que seja de devoção
nóis dexa sempre uns merréis
e lá nos cofre da frente
nóis coloca mais uns tostão

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Mais hoje Meu Sinhô
bateu uma coisa isquista
e eu me puis a matutá
nóis pede pede e pede
mas nóis nunca pregunta
comé que o Sinhô tá
se tá triste ou contente
se percisa darguma coisa
que a gente possa ajudá
e por esse esquecimento
o Sinhô há de adescurpá.

Ói Deus nóis sempre pensa
que o Sinhô não percisa de nada
mais tarvêz não seja assim
tarvêz o Sinhô percisa de mim
Sim… o Sinhô percisa, sim
percisa da minha bondade
percisa da minha alegria
percisa da minha caridade
no trato c’os meus irmão.

Nóis semo o seu espêio
nóis semo a sua Criação
nóis num pode fazê feio
nem ficá fazendo rodeio
mode desapontá o Sinhô
nem amargá o seu sonho
que foi um sonho de amô
quano essa terra todinha criô.

Ói Deus, eu prometo
vo rezá de outro jeito
vo pará com a pidição
e trocá milagre por tostão
tarvez inté eu peça uma graça
mas antes eu vo vê direitinho
o que é que andei fazendo de bão
e se nada de bão encontrá
muito vo me envergonhá
e ainda vo pedí perdão.

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Crédito das imagens, aqui. 
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Embora tenha sido o interiorano paulista a fonte de inspiração da autora ao criar o poema acima, a religiosidade ingênua e sincera, bem como o palavreado caipira lembram muito o matuto mineiro. Para deixar mais mineirim o texto eu grafaria não como “num” e em algumas palavras o o seria também substituído por “u”. Foi desse modo que li o poema no domingo à tarde  para o meu pai, nós dois a retomarmos, no instante da leitura, nossas raízes matutas  e a singeleza de nossa fé.
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Beijo&Carinho,

 

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MAIS PUBLICAÇÕES

Respostas de 21

  1. Oi, Ju,

    O caipira da prece deve ser mineiro mesmo, uai, rsrs. Pelo menos
    foi assim que o senti, quando li o texto. O texto, aliás, retratou
    bem a fé simples, quase infantil, do homem do campo.

    Beijo e boa noite!

  2. Jussara, vim por indicação da Clara Lúcia. Vou ficar por aqui. Sou mineira, moro em BH e também sou seguidora da Kellen Bittencourt. Ando em boa companhia, viu? rs
    Abraço! (Nem preciso dizer que adorei o poema do minerim. Concordo. Precisamos pensar em agradar mais a Deus, não só pedir).

  3. Ju na medida que fui fazendo a leitura me identifiquei com cada trecho. Não tenho raízes mineiras e sim nordestina e aqui costumamos fazer esse tipo de oração, quando mais nova era desse jeitinho que rezava e mantinha a linha de pensamento, agradecer sempre.

    Assim como você, nossas raízes são matutas e a nossa fé é singela.

    Beijo enorme e carinhoso!
    Lorena Viana

  4. Que beleza Jussara de oração Jussara, e acompanhada das pinturas ficou especial.

    ps.: ando muito sem tempo por isso ando sumida dos blogs queridos, mas vim rapidinho aqui (estou pingando de sono) só pra dizer que como uma amiga especial da Casa de Retalhos eu vou publicar seu comentário na postagem do sorteio e assim você pode participar mesmo sem ter facebook (não pensei nesse detalhe q para curtir no face é preciso ter uma conta lá).
    Boa sorte minha querida.

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