DORA E DORINDA: DUAS IRMÃS, DOIS AUTORES, DOIS TEMPOS, UM ROMANCE

.
.
Na noite do último domingo tive a alegria de receber 15 exemplares do recém-lançado Dora e Dorinda, acompanhados de um belo arranjo de lírios cor de laranja (eu amo receber flores!). Embora meu nome figure na capa como co-autora da obra, a maior parte dela é toda do Sr. Abel Faleiro –  poeta e comendador que na juventude atuou como jornalista, oficial de gabinete do Presidente Juscelino Kubitschek e de outros políticos famosos, como Tancredo Neves, chegando mesmo a vivenciar o golpe militar de 1964, durante o qual foi preso político.
.
.
.
Abel Faleiro
.
.
.
Amiga do “Seu” Abel desde os meus 19 anos, quando ele – jurado em um concurso de poesia – descobriu-me como poetisa, não tive como recusar seu pedido de colocar término em um romance que ele começara há mais de sessenta anos, mas para o qual engendrara uma trama tão rica que se tornara prisioneiro dela, não conseguindo colocar-lhe um ponto final.
Era final de 2009, eu acabara de chegar da Europa e ainda não me sentia de todo aterrissada na realidade machadense, o que me deixou apreensiva sobre assumir o trabalho.  Preocupavam-me, principalmente, a dificuldade de conciliar estilos e a possível inadequação do trabalho já realizado ao público atual.  Teria dito não a qualquer outra pessoa, mas não para o “Seu” Abel, a voz já fraca pela idade. Prometi, no entanto, apenas uma leitura cuidadosa para depois ver o que poderia fazer a respeito. “Fisgada”, entretanto, pela trama bem urdida pelo autor, aceitei o trabalho e a generosa oferta de efetuar as alterações que se fizessem necessárias visto ter sido o romance escrito em períodos espaçados de tempo, o que deixara no contexto algumas redundâncias e certos desarranjos referentes à cronologia e aos nomes das personagens.
Foram seis meses de trabalho intenso, durante os quais precisei inserir ou adaptar frases, tendo sempre em vista a coerência e a coesão da obra, o que me levou a ajustar meu texto ao estilo do autor e ao da época em que foi escrito o romance.
A história tem início no final de 1948, quando Dora, com 18 anos, volta a Belo Horizonte, recém-saída de um colégio interno. O encontro com a irmã Dorinda, um pouco mais velha e bem mais sofisticada, seu encantamento por Oswaldo, a amizade com Henrique e Rogério e a nova condição social dos pais – que agora frequentam salões de festa e têm dinheiro para comprar mansões – desequilibram o mundo pequeno e organizado de Dora que, perdida entre seus pincéis e desenhos, é arrastada pelo ritmo da vida social intensa da irmã fútil e interesseira.
Quando a relação das duas é ameaçada pela paixão por um mesmo homem a narrativa de “Seu” Abel chega ao fim. O Prólogo e a 2ª Parte do romance – de minha autoria – constituem a solução que encontrei para a conclusão da obra e demonstram minha preocupação em manter, dentro do possível, praticamente intocado o que já havia sido escrito. Indicam, ainda, meu cuidado em trazer para os dias atuais esta história que tanto me encantou. Escolhi entre os filhos de Dora e Dorinda aquele que resgataria do passado a história dos pais e a repartiria conosco, leitores. É esse personagem, que no texto do “Seu” Abel é um garotinho, que, feito homem – e até avô – vai tentar entender o que se passou há tantos anos com sua família. A 1ª Parte da obra – que constitui seu maior volume – é de autoria do Sr. Abel Faleiro, com as pequenas inserções minhas, que já expliquei.
O leitor atento perceberá, portanto, a diferença de estilos entre as partes que compõem a obra, sem deixar de observar que essas se complementam de forma harmônica, o que, acredito, faz de Dora e Dorinda uma leitura instigante, agradável e com um fundo profundamente reflexivo e humano.
Entreguei ao “Seu” Abel o livro concluído em meados de 2010. Desde então, todas as vezes em que o encontrava ele me dizia que a publicação seria em breve, com verba patrocinada pelo deputado X ou pelo prefeito Y, ou pela Imprensa Oficial, ou pela Academia Machadense de Letras. Nada aconteceu. Pior, aconteceu de o “Seu Abel” adoecer e seu desejo ter de se ajustar ao de sua família. A neta Aline, condoída pela situação do avô e pelo desejo deste, continuamente expresso, de ver editada a obra, providenciou, numa tiragem bastante reduzida, esta edição de autor que lhes apresento.
.
.
.
.
.
.
É possível que depois de a obra (re)conhecida, aqueles com os quais “Seu” Abel entrou em contato se movimentem no sentido de providenciar uma nova edição – aquela que a obra efetivamente merece. Enquanto isso não acontece, porém, os poucos felizardos que conseguirem adquirir um exemplar de Dora e Dorinda terão às mãos uma leitura ímpar, escrita por dois autores em dois tempos completamente diferentes.
Eu disse ao “Seu” Abel que não havia necessidade de o meu nome figurar como autora, mas ele fez questão disso – era, segundo ele, o mínimo que podia fazer para retribuir o carinho com que desenvolvi o trabalho que ele me ofereceu. Então no domingo recebi os exemplares que ele me mandou e os lírios, trazidos pela neta Aline. Fiquei feliz por imaginar a alegria do “Seu” Abel ao ter em mãos o livro pronto; orgulhosa por ter participado do projeto e por conhecer em primeira mão as personagens de Dora e Dorinda, por ter tido o poder de decidir os rumos de suas vidas; grata pela confiança do “Seu” Abel em meu trabalho, mas infinitamente grata, sobretudo, por sua amizade.
.
.
.
.
.
.
Parabéns, “Seu” Abel! É uma história linda!
.
.
.
Jussara Neves Rezende
.
.
.
Beijo&Carinho,
.
.
.
.
.
Crédito da imagem em destaque, aqui.
.
.
.

MAIS PUBLICAÇÕES

Respostas de 9

  1. Uau, que legal Jussara. A trama desse livro é super excitante, o livro deve ser ótimo.
    Parabéns pra você e parabéns para o Sr. Abel também
    Muito sucesso para o livro.

    ps.: gostei demais do centro de mesa, e suas fotos ficaram ótimas também.

  2. Jussara desde já fiquei entusiasmada de ler a obra!
    Se num for pedir muito, faz um sorteiozinho de um exemplar! heheh '
    (brincadeirinha)…
    Mas, quero ler demais essa obra!
    Amei os lírios! Um encanto.
    Parabéns pelo lançamento da obra de vocês!
    Desejo muito sucesso na trajetória!

  3. Oi, Regina, fico tão contente que tenha se interessado pela trama de Dora e Dorinda! Escrito há tantos anos, imagine!, mas atrativo para o leitor de hj também, não é mesmo? A Lorena Viana sugeriu que eu faça um sorteio… sabe que não fiquei indiferente à ideia? Mas quero promovê-lo em comemoração ao dia em que o Blogger me tirar do boicote e me permitir ter "Seguidores".
    Obrigada pelo entusiasmo, pelos bons votos, pelos elogios… o centro de mesa é arte da mamãe – a que tem mãos de fada… rs
    Abração!

  4. Que bom saber, Lorena, que apenas a apresentação que fiz da obra já despertou essa vontade de lê-la!
    Sabe que gostei da ideia do sorteio? Mas vou dar um tempo e ver se o Blogger me tira do boicote e me permite ter "Seguidores". Aí, em comemoração, sorteio o livro. Fica bom assim?
    Obrigada pelo entusiasmo e pelos bons votos.
    Abração!

  5. Olá, Susi, obrigada pelos parabéns! Na verdade fico feliz por ter atendido ao pedido do Sr. Abel em tempo, antes que ele ficasse doente. A Lorena Viana sugeriu um sorteio do livro. Eu fico torcendo pro Blogger me deixar
    ter "Seguidores"… aí, pra comemorar, faço o sorteio. O que vc acha?
    Abraço,
    Jussara

  6. Olá, Sidnei. Como você sabe tenho poucos exemplares e um punhado de escritores que me presenteiam com suas publicações e com os quais sempre me sinto em dívida. De todo modo vou separar um exemplar para o sorteio sugerido pela Lorena e – caso ainda reste algum – quem sabe você não ganha? Afinal…você vai publicar um livro com um prefácio meu… ou orelha… ou… ou não vai? rs. Abraço!

  7. excellent submit, very informative. I'm wondering why the opposite experts of this sector don't understand
    this. You must proceed your writing. I'm sure, you've a great
    readers' base already!

    My blog post :: screen next

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress