TEMPERO BOM MINEIRO FAZ

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Coloco sobre a bancada da cozinha os ingredientes para o preparo do almoço. É feriado e a manhã gelada faz desejar o aconchego da cama e do livro abandonados. O cheiro do tempero, entretanto, a se espalhar pela carne, depois pela cozinha, pelo quintal, pela casa, tira-me momentaneamente da manhã fria e leva-me a qualquer canto do passado, a uma tarde ensolarada e morna, à cozinha de minha avó.
Devo ter uns oito anos a essa altura e estou sentada à mesa a observar a cozinheira preparando o tempero verde essencial ao preparo de carnes saborosas. Não me lembro do nome  dessa cozinheira – uma entre as tantas que se empregaram em casa de minha avó – que luta contra as lágrimas ao fatiar as cebolas que se juntam, no liquidificador, aos dentes de alho e ao cheiro-verde.
O aroma de alho é intenso; agrada-me e me faz pensar, vagamente, que um dia terei eu mesma que descascar o alho e repetir o mesmo processo ao criar os meus próprios vidros verdes de tempero. 
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A mão da cozinheira, posta em concha, despeja um punhado de sal na mistura… não há uma medida rígida… ela parece se guiar por uma balança que funciona na própria palma ou dentro de sua cabeça…
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O liquidificador faz o barulho tradicional e eu pisco várias vezes, rapidamente, para que nenhum detalhe da cena se perca. Um longo fio de azeite se junta ao tempero cheiroso até que a textura adquira a consistência que deve ter. 
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Enquanto o tempero é vertido em vidros vazios de palmito, ergo-me rápida e passo o dedo pela superfície lambuzada do liquidificador. O cheiro quase fere posto próximo ao nariz e a língua suga o fruto do meu roubo: gosto que arrepia, arde e é bom. 
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A torneira aberta é pródiga ao espalhar a água que se mistura ao sabão para a limpeza da tábua, da faca, da mesa… Desinteresso-me rápido dessa nova atividade ou alguma outra me atrai… de repente já se esboroa a tarde morna e minha cozinha matutina e fria é que me abraça e me flagra a usar a mão em concha para sopesar a quantidade do tempero verde necessária à carne – eu também possuidora – agora – de uma balança invisível.
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A receita:

Sobejam receitas de tempero caseiro por aí… a que herdei é basicamente esta:

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Depois que se usa para temperar frango – ou outra carne, como eu fiz no feriado – nunca mais se acha graça em qualquer outro tempero.  Palavra de mineira 😉
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Beijo&Carinho,

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Respostas de 46

  1. Oi, Ju,

    Fui lendo o texto – delicioso – e sentindo no nariz o cheiro do tempero, rsrs. Vi que o seu tempero é o mesmo que fazemos em família (coisa de mineiro, acho, rsrs). A bem da verdade, hoje quem o faz, e distribui os potes para todos, é a minha irmã mais velha. Este tempero é mesmo uma delícia!

    Um beijo e bom fim de semana!

  2. Oi Jussara, literalmente deliciei-me com seu texto….rss…Maravilhoso! Saboreio suas palavras tão simples, porém tão cheias de emoção e isso é muito bom.
    Vou anotar e fazer o tempero. Obrigada por dividir conosco.
    Beijos, querida. Tenha um lindo sábado.

  3. Não entendo muito de cozinha, mas já aprendi que no preparo da maioria dos pratos não pode faltar como tempero, alho, cebola e sal. Os demais condimentos apenas sofisticam o paladar, complementam os principais. Esse que você faz parece muito bom. Abraços, Jussara.

  4. Oi Jussara, primeiro quero muito agradecer seu carinho lá no blog, suas palavras, sempre sábias me enchem de alegria!!Nem sei dizer do que gostei mais…se do poema ou do tempero…se do tempero ou do poema??Ó dúvida!!Vou fazer, provar e aprovar!!Beijinhos!

  5. Ô, TREM BÃO, UAI!
    TAMBÉM ADORO COZINHAR, TEMPERAR, SENTIR OS ODORES E SABORES!!!
    ADORO TOMILHO, COMINHO, PIMENTA-DO-REINO, PÁPRICA, SALSA DESIDRATADA, COLORAU, AÇAFRÃO E ORÉGANO!
    TEMPEROS QUE NÃO USO DE JEITO NENHUM, SÃO COENTRO E LOURO. AH, NÃO VAI!!! TIRA TODO O GOSTO DO ALIMENTO E FICAM PREDOMINANTES. NO MAIS, ADORO UMA COMIDA BEM TEMPERADINHA! TEM MAIS GOSTO E AS LOMBRIGAS PEDEM BIS, SÔ! KKK
    TENHA UM LINDO DOMINGO, CONTERRÂNEA! 🙂

  6. Acompanhei cada passo, sentindo os cheiros e sabores…Deliciosa maneira de passar uma receita, para ser inesquecível! Sua mineirice me encanta a cada visita…
    Desejos de uma semana iluminada!
    Beijinhos, Ana

  7. Uau, que jeito lindo e poético de dar uma receita. E das boas! Adorei o tempero. Vou fazer. Agora suas palavras me remeteu a casa da minha avó e lembrar de quando a via cozinhando, quantas lembranças!
    beijos
    Adriana

  8. Oi Jussara! Acabo por me dar conta exata do estilo de seus textos, interessantes que faz a mente viajar pelo tempo, e tentar imaginar duas situações de tempo se sobrepondo, muito legal!

    Eu também partilho de observações culinárias na minha época de criancinha, adorava acompanhar minha mãe em suas aventuras pela cozinha, e hoje também possuo essa balança misteriosa que só a pratica consegue criar em nossos sentidos 🙂 e me sinto humildemente superior quando algumas pessoas que falam que não gostam de cozinhar surpreendesse quando as vezes não meço quantidades de temperos exatas para fazer uma boa comida! rsrs

    vai na sensação e como vc disse, na intuição, forte abraço!

  9. Oi Jussara

    Qualquer coisa que você põe a mão se transforma em poesia. Seus temperos esboroam em pitadas de carinho. A receita com lágrimas de saudade e do aroma da cozinha da avó tem sabor de carne mineira.
    Num piscar de olhos preparaste um delicioso texto que deu água na boca.
    Bjs.

  10. Ju, como diz meu marido, isso sim é cozinheira de verdade! Essas mesmo, que tem a balança na própria mão ou na mente, sem "medidas rígidas", como disse você. Com certeza deve ficar uma delícia, vou testar! Vou fazê-lo amanhã mesmo, já que o cheiro-verde está na geladeira quase perdendo. Obrigada por compartilhar a receita, flor! Bjinhos, fica com Deus!

  11. Jussara querida

    Gosto demais do jeito que voce escreve, até parece que estou lendo um livro.

    Essa receitinha é ótima, e é tão bom deixar prontinho na geladeira, que nos facilita

    na hora de cozinhar, né?

    beijo carinhoso e ótima semana

    Regina Célia

  12. Oi Jussara,
    Eu aviso o 'post longo' rs porque tem muita gente que reclama rs
    Aí, fica o aviso 🙂

    Obrigada pelo carinho!
    Que bom que gostou do sorteio, sempre penso em agradecer as pessoas queridas que estão comigo todo dia 🙂
    bjs,boa sorte!

    Quanto ao 'quiz'…pode 'chutar'rs quem sabe!

  13. Oi Jussara, é a Vi, tu és tão talentosa, que até uma receita fica glamourosa, sinto prazer em ler o que você escreve..
    Com certeza esse tempero deve ficar fabuloso.
    Vou ver se acho o livro Cacos da memória na biblioteca, fiquei curiosa.
    Muitos beijos,Vi

  14. Ju, fiz o tempero ontem! O que é aquilo???? Delícia demais!
    Quando abri o liquidificador e senti o cheirinho, imaginei toda a cena que li no post… parecia que eu era uma terceira pessoa na cozinha, enquanto você, com 8 anos, observava a cozinheira fazendo tudo. Amei! E ainda no final passei o dedo pra lamber… ahiauiauaiuai… que delícia de tempero, amei!
    Hoje vou temperar o frango com ele! =D Bjinhos, flor, fica com Deus!

  15. Então Jussara… minhas saladas começaram em função do marido que estava com triglicerídeos lá em cima.
    Não gostávamos muito por isso comecei essa brincadeira. Funcionou bem,aprendemos a comer de verdade. No meu blog em abril de 2013 tem mais 8 saladas. Passa lá.
    Bjus e boa salada. ;p

  16. Olá Jussara vim algumas vezes visitar o seu cantinho e agora fiquei de vez.
    Menina estou aqui salivando com esse tempero, só de ler o seu post, eu também faço esse tempero, só não colocava o azeite, as vezes colocava um fiuzinho de óleo, mas gosto muito de azeite e o próximo com certeza será com ele.
    Uso esse tempero para todas as comidinhas refogadas, inclusive para temperar o feijão fica ótimo.
    Bjos e fique com Deus,
    Marlene

  17. Que belo relato, vivi as lindas cenas e me despertasse o desejo de também querer fazer esse maravilhoso tempero. Tomara que eu acerte a mão como a cozinheira de sua vó. Vou fazer e depois te falo como ficou.
    Menina, eu que pensei que em Minas era quente, aqui o tempo estava muito bom até hoje, agora a tarde desceu uma nuvem negra trazendo uma frente fria, está congelando se ficar na rua. Hoje a noite certamente vai gear.
    Bjos e tenha uma ótima semana.

  18. Minha maínha não era mineira não,
    mas ela fazia este temperinho caseiro
    e a comida dela era sempre uma delícia,
    igual comida mineira!
    Não faço aqui porque fico com medo de
    deixar cheiro no liquidificador (maínha usava o master)
    que marido usa pra fazer vitamina todo dia…
    Beijins,
    Dea

  19. Narração deliciosa sobre como um tempero pode dar mais sabor à vida (e à memória).
    Quando criança, gostava muito de cortar um tomate no meio e comê-lo, passando várias vezes o tempero que minha mãe tinha acabado de fazer. Volta e meia ainda faço isso, só que agora com o tempero que compro perto de casa, de uma mulher que tem um estabelecimento que não passa de um corredor com uns três metros de profundidade e vende apenas tempero verde, alho e cebola em uma bancada. Ontem fui lá e não tinha nenhum para vender, pois todos foram comprados. O marido dela afirmou que estava fazendo uma nova leva e para passar lá hoje.
    Uma amiga, que morou alguns anos na Bahia e agora reside em Campos (RJ), volta e meia pede para mandarmos pelo correio tempero verde e linguiça com azeitona, feitos aqui em Juiz de Fora, pois afirma que não encontra nada parecido por outras bandas.

  20. Olá Jussara…
    Que bela recordação da infância!Nós amamos temperos caseiros é tradição de família.
    O seu está com uma bela aparência,vou fazer.na casa da minha mãe tem algumas ervas
    que ela planta,inclusive uma planta que se chama quitoko que no frango fica maravilhoso.Você está de parabéns em passar esses valores para todos nós.Vim te conhecer através do blog da Pepa e da Vi.Obrigada pelo seu relato.Uma ótima semana
    Abraços afetuosos

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