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Entre as imagens mais antigas registradas em minha memória estão os paninhos bordados pela minha mãe, que ficavam sob o abajur, sob a travessa de louça, sobre a mesa e sobre o fogão, e a pilha de livros infantis que, espalhados sobre a cama, contados e recontados, faziam-me tão feliz. Tenho a maior parte desses livros ainda hoje, tantos anos depois, os mais antigos deles datados de dois anos após o meu nascimento.
Ao longo dos anos, enquanto os bordados lamentavelmente se perdiam com o desgaste dos tecidos a cada lavagem, mais de uma vez precisei me dedicar à tarefa de conservação desses livrinhos, colando páginas despregadas, restaurando capas ou confeccionando capas novas.
Por essa razão atraiu-me tanto a notícia de que na Universidade de Uppsala, na Suécia, o setor de preservação de livros esteve envolvido com a restauração de um manuscrito medieval já remendado com… bordados!
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As páginas do livro, que data do século 14, são feitas de pergaminho e apresentam buracos e rasgos típicos do processo de produção desse material. Algum tempo depois que o livro foi copiado os danos foram consertados artisticamente com fios de seda de diversas cores, em pontos de bordado.
Como o manuscrito pertenceu à biblioteca monástica do Convento Vadstena, também sueco, gosto de imaginar que foram as freiras ou os monges que ali viveram, depois de 1417, os responsáveis por essa restauração artística.
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De acordo com Augusta Strand, conservadora da Biblioteca da Universidade de Uppsala, local onde o livro esteve exposto entre abril e maio deste ano, os remendos em forma de bordados estavam em bom estado de conservação, exceto os que utilizaram a cor preta. Em virtude da acidez do processo de tingimento, à base de sulfato de ferro e tanino, o fio preto se desgastou mais facilmente e a fim de evitarem o desaparecimento das peças em que ele foi empregado os conservadores suecos pulverizaram cola sobre esses bordados e estabilizaram alguns deles com uma fina gaze de seda.
Trabalho lindo para conservar livro e bordado, feito com o cuidado e respeito devidos a um livro dessa idade.
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Aqui, antes do trabalho dos restauradores da Universidade de Uppsala,
o bordado se desprendia em razão do desgaste do fio preto
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Aqui, após a intervenção dos conservadores de Uppsala.
Note a gaze de seda a estalilizar o bordado, mesmo com a ausência do fio preto
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Agradeço imensamente à Egléa Senna, artista dos bordados, tão dedicada quanto as antigas freiras da Suécia, por ter me enviado a reportagem que deu origem a este post.
Sob o seu “Jeito mineiro de ser” que, aliás, é o nome de seu blog, Egléa percebeu nesta que aqui escreve uma apaixonada por livros e bordados – o que é pura verdade e o que escrevi acima o comprova – e, assim, quando viu a reportagem tratou de enviá-la a mim como um presente. Obrigada, Egléa!
Sob o seu “Jeito mineiro de ser” que, aliás, é o nome de seu blog, Egléa percebeu nesta que aqui escreve uma apaixonada por livros e bordados – o que é pura verdade e o que escrevi acima o comprova – e, assim, quando viu a reportagem tratou de enviá-la a mim como um presente. Obrigada, Egléa!
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Para conhecer o trabalho da Egléa Senna, clique aqui.
Para ler a reportagem original sobre o manuscrito medieval remendado com fios de seda, clique aqui.
Beijo&Carinho,.
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Respostas de 24
Jussara,
Que legal!
Não tinha a mínima ideia da existência dessa técnica de restauração com bordados.
Super interessante, sem que contar que fica lindo.
Imagino o cuidado e a paz que cada cantinho carrega se tiverem sido feitos por monges e freiras…
Aprendi!
O trabalho do Bonifrati é super fofo, e eles disponibilizam muitos PAP,s
bjs
Que beleza isso,Jussara. Belo teu post, lindo ver esse trabalho dos restauradores e esses bordados,Adorei e fui lá espiar o blog da amiga e gostei. Vou voltar lá pra comentar. beijos,lindo sempre, bem produzidos teus posts chica
Esqueci!
A bailarina agradece 😉
bjs
Oi Jussara.
Que trabalho interessante. E deve ser necessário muito cuidado e paciência para ser realizado. Lindo post.
Bom final de semana.
Que interessante e lindo! Nunca imaginei ver algo assim!
Beijos
Jussara, como imaginei, este assunto bordado com suas palavras ficou ainda mais fascinante!
Agradeço imensamente o carinho, a menção e o link mas, discordo quando você diz que sou uma "artista dos bordados" falta muuuuuito para isso – talvez mais umas três encarnações treinando, quem sabe… Apenas gosto muito dessa arte e estou dando os meus primeiros passos entre linhas, bastidores e agulhas.
Esta história de blog é interessante, a gente percorre e lê vários, pesquisa assuntos que nos interessam em outros tantos e, com o tempo, algumas "blogueiras" vão se instalando no coração, no cantinho reservado aos bemquereres (mesmo que virtuais). Saiba que você está lá, confortavelmente instalada numa poltrona com livros, lápis e papel à mão.
Obrigada pelo carinho e um abração! Ótimo fim de semana!
Egléa
PS: O carteiro passou por aí?
Oi Jussara,
Que trabalho interessante. Adorei ver esta restauração.
Tenha um ótimo final de semana.
Bjs
GOSTO DISTO!
Ju, que junção pra lá de perfeita. Livro e bordados, não tem coisa mais linda, mais gostosa e que tenho um apreço imenso! Amei.
Tenho certeza que esses livros ficaram ainda mais belos. Imagino tamanha delicadeza e paciência para ser executada essa arte.
Obrigado por todo o carinho. Você já é especial pra mim.
Um lindo e iluminado final de semana!
Beijinhos
Lorena Viana
É a arte salvando livros e se reinventando! Ideia super criativa, amei…
Beijinhos, Ana
Esses manuscritos com tantos séculos são, eles próprios, uma obra de arte de caligrafia e, muitos deles, têm ainda belas iluminaturas a decorar as páginas. Tudo feito com esmero, elegância e paciência. Ou seja, tudo o que o bordado representa também. Portanto, trata-se de um casamento perfeito.
Um beijinho e um doce fim-de-semana
Ruthia d'O Berço do Mundo
Oi Jussara!
Passando pra te desejar um lindo fim de semana! Aproveito pra comentar que tomei a liberdade de indicar o teu post sobre conselhos para poetas, no meu blogue.
Bjkas
Mila
Oi Jussara, é a Vi, nunca tinha visto isso, muito interessante esta forma de restauração, sem contar que o livro fica mais bonito e tem uma outra historia para ser contada, a historia de quem bordou.
Muitos beijos,Vi
Ju,
Eu não teria coragem de fazer esses bordados para um livro! Do jeito que sou desastrada iria perfurar mais e ia rasgar mais ainda a página! Imagino a paciencia desse povo!
Adorei saber. Vivendo e aprendendo!
Beijos
Adriana
Ps.: já enviei seu livro!
Que bacana Jussara, trabalho super delicado esse, que bom que existem profissionais que se dedicam a esta arte de conservação, maravilhoso trabalho sem duvida, só assim para preservarmos algumas memórias! Minha mãe tbém colocava forrinhos de crochê em tudo, ôoo saudade! Bjossss
Ju, juro que nunca nem passou pela minha cabeça uma coisa assim…
Mas como vc fiquei pensando na história por trás desses bordados e a delicadeza do trabalho …
Tem como não ficar encantada com uma história assim ??
Adorei e obrigada a Egléa por ter te mandado o link, rsrs
bjus 1000 querida e um lindo finde prá ti e toda tua família !!!
Jussara, que coisa mais inusitada e linda…fiquei encantada e também gosto de imaginar as freiras fazendo esse trabalho. Melhoras ao teu pai e meus sentimentos pela perda de sua prima, tá? bjossss
Trabalhos lindos que juntam duas artes que eu amo: literatura e bordado!!
Forma muito criativa e bonita de preservar os livros!!
Jussara, mas que interessante!!!
Não sei de que material é feito o pergaminho, mas deve ser um tipo de couro, é?
E olha a criatividade em emendar bordados…
O ser humano é impressionante mesmo, quando quer!
Um ótimo domingo e até semana que vem!
Beijos
Oi Jussara, eu também nunca tinha visto este tipo de restauração. Jamais passaria pela minha imaginação costurar literalmente as páginas de um livro. Fico imaginando ainda quantas técnicas esquecidas ainda existem que nós nem sonhamos ser possível.
Na minha casa também havia muitos paninhos e toalhinhas bordadas…algumas sobreviveram aos anos e eu as guardo como se fossem tesouros.
bj grande linda semana
yvone
Oi Jussara
muito interessante esses bordados
parecem jóias saindo das páginas!
Eu ainda não tinha visto tamanha beleza!
Eu não tenho paninhos antigos, mas tenho os meus
estão lá pelo blog. Dá trabalho, tem que lavar sempre , se nao são usados.
Abençoadas mãos desses restauradores de livros!
bj e uma boa semana
Zizi
Oi Jussara,
Se pudesse faria uma guirlanda por mês.
Não consigo tempo, então me resta a do Natal.
Quanto ao 'meme', como disse mesmo, uma falta de respeito.
E não sabem o que estão perdendo não lendo os seus posts!!!
bjs,ótima semana!
Que coisa interessante e linda. É provável mesmo que tenham sido as freiras que bordaram. Que bom ter lugares que preservam e respeitam as obras de arte e cultura. Bj
Joana
Jussara
Já vi que tem muita coisa interessante para ver. Volto para apreciar com todo carinho que você merece. Estou adorando o seu livro "Minas de Mim" Já estou escolhendo um dos poemas também.
Bjs. Inté.
Jussara
Pouco a pouco vou retomando as minhas visitas. Tive muitos afazeres que me tomaram o tempo.
Achei esta postagem maravilhosa. Desconhecia esse método de restaurar livros com bordados no convento sueco.
Manuscritos em pergaminhos remendados com bordados, só você consegue mostrar tamanha riqueza que o tempo ainda não conseguiu destruir.
Fui lá no espaço da Eglea Senna e logo no primeiro post vejo os mimos de bordados que adoro. É um encanto lá.
Um lindo domingo
Bjs.